8 de jul. de 2007

Não te amo




Não te amo, quero-te:

o amor vem d'alma.

E eu n'alma - tenho a calma,

A calma - do jazigo.

Ai! não te amo, não.

Não te amo,

quero-te: o amor é vida.

E a vida - nem sentida

A trago eu já comigo.

Ai! não te amo, não!

Ai! não te amo, não;

e só te quero

De um querer bruto e fero

Que o sangue me devora,

Não chega ao coração.

Não te amo.

És bela; e eu não te amo, ó bela.

Quem ama a aziaga estrela .

Que lhe luz na má hora

Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,

De mau, feitiço azado

Este indigno furor.

Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto

Que de mim tenho espanto,

De ti medo e terror...

Mas amar!... não te amo, não.

Almeida Garrett

Nenhum comentário: