24 de jul. de 2007

Metade


Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

14 de jul. de 2007

Vida sem rumo


Vida sem rumo sem sonhos,

sem futuro, sem nada.

Vida que não é vida,

Apenas um emaranhado de dor e tristeza.

Um sorriso amarelo numa boca trêmula.

Não tenho lágrimas, não sei chorar.

Me sufoco com minha própria dor

E a cada gole de desespero,

Parte de mim se vai.

Não posso mais caminhar para mim,

Já não sei mais quem eu sou.

O que vejo é apenas uma sombra

Daquilo que um dia eu fui

Alguém na porta.

Na boca uma notícia amarga.

Sem olhos, nem choro, nem fala,

Apenas a vida,

Amarela, amarga, mas conformada.

Olho em volta e muitos se foram

E temo que outros se vão,

Pois esta estrada não tem volta

Nem choro, nem nada.

Ouço a música de minha morte,

Onde todos sofrem...

10 de jul. de 2007

Amo e Odeio


Amo quando me liga

Odeio quando me esquece

Amo quando me abraça

Odeio quando me entristece

Amo quando me beija

Odeio quando me ignora

Amo o ontem

Odeio o agora

Te amei ontem

Te odeio agora

Mas se ontem te amei,

Como posso te odiar agora

Se todos os meus amores vencem meus ódios...

Te amei, te amo e não te odeio

Só te amo, apenas amo quem eu odeio

O sempre aquele sempre

Que te amarei, jamais deixará de ser sempre

O Sempre que nunca mais te odiarei...

8 de jul. de 2007

Não te amo




Não te amo, quero-te:

o amor vem d'alma.

E eu n'alma - tenho a calma,

A calma - do jazigo.

Ai! não te amo, não.

Não te amo,

quero-te: o amor é vida.

E a vida - nem sentida

A trago eu já comigo.

Ai! não te amo, não!

Ai! não te amo, não;

e só te quero

De um querer bruto e fero

Que o sangue me devora,

Não chega ao coração.

Não te amo.

És bela; e eu não te amo, ó bela.

Quem ama a aziaga estrela .

Que lhe luz na má hora

Da sua perdição?

E quero-te, e não te amo, que é forçado,

De mau, feitiço azado

Este indigno furor.

Mas oh! não te amo, não.

E infame sou, porque te quero; e tanto

Que de mim tenho espanto,

De ti medo e terror...

Mas amar!... não te amo, não.

Almeida Garrett

5 de jul. de 2007

Despedida


Por mim, e por vós, e por mais aquilo

que está onde as outras coisas nunca estão
deixo o mar bravo e o céu tranqüilo: quero solidão.
Meu caminho é sem marcos nem paisagens.

E como o conheces ? - me perguntarão.
- Por não Ter palavras, por não ter imagem.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.
Que procuras ? Tudo.
Que desejas ? Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.

Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.

Voou meu amor, minha imaginação ...

Talvez eu morra antes do horizonte.

Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo aqui meu corpo, entre o sol e a terra.

(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão !

Estandarte triste de uma estranha guerra ... )

Quero solidão.

Cecília Meireles

Lágrimas de um olhar

"Amor, sonhos, realidade...
São visíveis nos meus olhos
minhas lágrimas caírem
Levam juntos os meus sonhos
que não mais se correspondem
Vão se embora como o vento
ninguém vê, só eu posso sentir
Gotas que representam sentimento
que jamais vai me fazer sorrir
Já não consigo mais viver
deixo a vida me levar
Como faço pra esquecer
quem eu aprendi amar
Cada piscar do meu olhar
está escrito meu passado
Estou cansado de lutar
meu coração está machucado
Tudo por causa de uma paixão
que não consigo esquecer
Deixou marcas no meu coração
e pra sempre eu vou sofrer
Tudo na vida passa
Menos a dor
Menos as lágrimas
De um grande amor!!!
Quenner Monteiro de Souza


Não te quero senão porque te quero


Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,como um cego.
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,a sangue e fogo.

Pablo Neruda

3 de jul. de 2007

Pedaços de mim.


Eu sou feito de sonhos interrompidos
detalhes despercebidos
amores mal resolvidos,
sou feito de choros sem ter razão
pessoas no coração
atos por impulsão,
sinto falta de lugares que não conheci
experiências que não vivi
momentos que já esqueci
eu sou Amor e carinho constante
distraído até o bastante
não paro por instante,
já tive noites mal dormidas
perdi pessoas muito queridas
cumpri coisas não prometidas,
muitas vezes eu desisti
sem mesmo tentar
pensei em fugir, para não enfrentar
sorri para não chorar,
eu sinto pelas coisas que não mudei
amizades que não cultivei
aqueles que eu julguei
coisas que eu falei,
tenho saudade de pessoas
que fui conhecendo
lembranças que fui esquecendo
amigos que acabei perdendo.
Mas continuo vivendo e aprendendo.

Acordar, viver

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas de amanhã
com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento que lembra
a Terra e sua púrpura demente?
E mais aquela ferida que me inflijo a cada hora,
algoz do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.

Saudade


Saudade é solidão acompanhada,

é quando o amor ainda não foi embora,

mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,

é recusar um presente que nos machuca,

é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,

é a dor dos que ficaram para trás,

é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:

"aquela que nunca amou".

E esse é o maior dos sofrimentos:

não ter por quem sentir saudades,

passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.

"Pablo Neruda"

Como morrem os amores!!!!!!!!!!

Os amores morrem de inanição,
Se não há alimento.
Os amores morrem de decepção,
Se não há sobriedade.
Os amores morrem de ciúmes,
Se lhes falta alento.
Os amores morrem de quietude,
Se não há cumplicidade.
Os amores morrem de tédio,
Se lhes falta motivação.
Os amores morrem de egoísmo,
Quando se ama em solidão.
Os amores morrem cedo,
Quando falta compreensão.
Os amores morrem queimados,
No calor de uma discussão.
Os amores morrem sufocados,
Pela mágoa acumulada.
Os amores morrem afogados,
No mar das mentiras criadas.
Os amores morrem doentes,
Quando somos intransigentes.
Os amores morrem dormindo,
Se a paixão vai se diluindo.
Os amores morrem,
Porque nós o matamos.
Os amores morrem,
Se os sentimentos ocultamos.
Os amores morrem,
Porque não os vivemos.
Os amores morrem...
E, morrendo o amor,
Nós é que morremos.

2 de jul. de 2007

Sem Amor...


A inteligência sem amor,te faz perverso.

A justiça sem amor,te faz inplacavel.

A diplomacia sem amor,te faz hopócrita.

O exito sem amor,te faz arrogante.

A riqueza sem amor,te faz avaro.

A docilidade sem amor te faz servil.

A pobreza sem amor,te faz orgulhoso.

A beleza sem amor,te faz ridiculo.

A autoridade sem amor,te faz tirano.

O trabalho sem amor,te faz escravo.

A simplicidade sem amor te deprecia.

A oração sem amor,te faz introvertido.

A lei sem amor,te escravisa.

A politica sem amor,te deixa egoista.

A fé sem amor,te deixa fanático.

A cruz sem amor se converte a tortura.

A VIDA SEM AMOR....NÃO FAZ SENTIDO

1 de jul. de 2007

Amar

Que pode uma criatura senão,senão entre criaturas, amar?
Amar e esquecer,amar e malamar,amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amorososozinho, em rotação universal, senãorodar também, e amar?amar o que o mar traz à praia,o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,o que é entrega ou adoração expectante,e amar o inóspito, o áspero,um vaso sem flor, um chão de ferro,e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,doação ilimitada a uma completa ingratidão,e na concha vazia do amor a procura medrosa,paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossaamar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
"Carlos Drummond de Andrade"

A um ausente


Tenho razão de sentir saudade,tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescênciade viver e explorar os rumos de obscuridadesem prazo sem consulta sem provocaçãoaté o limite das folhas caídas na hora de cair.Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,o ato que não ousamos nem sabemos ousarporque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso, vozmodulando sílabas conhecidas e banaisque eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizesteo não previsto nas leis da amizade e da naturezanem nos deixaste sequer o direito de indagarporque o fizeste, porque te foste.

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
"Carlos Drummond de Andrade"